sexta-feira, 4 de março de 2016

Bala perdida matou ao menos 52 e deixou 86 feridos no Brasil em 2015


Vítimas de bala perdida em 2015 (620px por 388px) (Foto: Reprodução)
Algumas das vítimas de bala perdida em 2015 (Foto: Reprodução)
Tayná, de 7 anos, brincava numa rua de Paulista (PE) quando foi baleada na cabeça. A professora Miriã, 40, caminhava para a escola em Vila Velha (ES) quando foi atingida nas costas. Um tiro acertou a cabeça de Asafe, 9, no instante em que ele saía de uma piscina, no subúrbio do Rio. Além da dor, as famílias dessas vítimas têm em comum a dificuldade de encontrar os culpados: ninguém sabe de onde os tiros partiram.
Eu sei que foi uma fatalidade. Mas é muito difícil saber e aceitar que as pessoas que atiraram ainda estão por aí, soltas, prontas para atirar e matar novamente"
Francisca Benedito da Silva, filha de uma vítima de bala perdida no RN
Pelo menos 52 pessoas morreram e outras 86 ficaram feridas por bala perdida em todo o Brasil em 2015. A Polícia Civil não contabiliza mortes do tipo, por isso, o levantamento foi feito com base em notícias publicadas no jornal nacional.
“Eu sei que foi uma fatalidade. Mas também é muito difícil saber e aceitar que as pessoas que atiraram ainda estão por aí, soltas, prontas para atirar e matar novamente”, diz Francisca Benedito da Silva, filha de uma vítima de bala perdida em Natal. João Benedito, de 83 anos, estava sentado em frente ao seu mercadinho quando ladrões tentaram assaltar pessoas na rua e acabaram atirando.
Ele é um dos dois casos em que a pessoa foi vítima em resultado de roubos a outras pessoas. Quase 40% das mortes de bala perdida envolvem disputas entre criminosos ou confrontos entre policiais e suspeitos: 10 vítimas foram atingidas em tiroteios entre bandidos e policiais, e 10 em confrontos entre criminosos.
Parentes choram a morte de vítimas de balas perdidas (Foto: G1)Parentes choram a morte de vítimas de balas perdidas (Foto: G1)
Estado
Mortos
Feridos
RJ1545
BA66
ES35
PB17
SP52
MA32
MG23
RS40
GO22
PE21
AM21
PA21
RN11
PI11
AP02
SC11
MS02
AL11
CE10
SE01
PR01
DF01
Total5286
Em nove dos casos de mortes, não há nenhuma informação sobre de onde surgiu a bala. Nove foram vítimas de pessoas faziam disparos aleatórios. Cinco mortes ocorreram em brigas. E, em outros cinco casos, a vítima foi alvejada quando alguém tentava matar uma terceira pessoa.
Uma vítima foi atingida após confusão em um presídio a menos de um quilômetro de distância. Ricardo Alves, 33 anos, morreu enquanto escovava os dentes na varanda de casa, no morro em frente ao Complexo Prisional do Curado, no Recife. "Era uma catástrofe anunciada. Esse presídio já era para ter saído daqui", contou o irmão da vítima, Maviael Alves.
Em relação aos 86 feridos, em grande parte dos registros iniciais (20), não há nenhuma informação sobre a origem do disparo. Outros 33 são resultado de tiroteios e 12, de alguém fazendo disparos.
RJ tem maior número de vítimas
Conforme os dados  foram registrados casos em 21 Estados e no Distrito Federal. O Rio de Janeiro é o estado com o maior número de casos: 15 mortos, 45 feridos – 60 no total, o que representa 44% das ocorrências no país.
Em seguida está a Bahia, com seis mortes e seis feridos, sendo que as vítimas foram em sua maioria crianças de até 5 anos, atingidas durante brigas ou disputas do tráfico.
Apenas em Mato Grosso, Roraima, Rondônia, Acre e Tocantins não houve registros no ano.
Como são os registros
Joana Monteiro, presidente do Instituto de Segurança Pública (ISP) do Rio de Janeiro, explica que não existe uma tipificação penal de "bala perdida" e que os casos são investigados pela Polícia Civil como homicídios e lesão corporal dolosa (em caso de ferimentos).
"A dificuldade é que as estatísticas são baseadas nos registros de ocorrência, que é o primeiro relato do evento que será investigado, e tipicamente há poucos detalhes sobre as circunstâncias da morte nestes registros", diz Joana.

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